Alexandre Couto possui uma história de vida que se confunde com a história dos cinemas de Mato Grosso do Sul, em especial de Campo Grande. Iniciou sua trajetória profissional na sua cidade natal, Três Lagoas, em 1962, no Cine Lapa como decorador de cinema, painéis com os desenhos dos atores eram expostos. Começoou a trabalhar na Empresa Teatral Pedutti e logo foi transferido para a praça de Campo Grande no Cine Alhambra, Santa Helena, Auto Cine, Cine Plaza e Rialto, todos da Empresa Teatral Pedutti, onde sempre trabalhou como decorador de cinema, reproduzindo os cartazes em painéis que ficavam em exposiçãoo na frente dos cinemas. Em 1978 resolve comprar uma câmera Super-8 e junto com seus colegas, também funcionários do cinema realizou seu primeiro curta.
Sem nenhum apoio governamental e empresarial, ele já produziu 4 curta-metragens: “Vingança Maldita” (1978), “A marca do destino” (1980), “Imprevisto ao acaso” (1993) e “Fatalidade” (1993) e ainda realizou 2 longa-metragens: “Liberdade para os inocentes” (1987) e “Os covardes devem morrer” (1994). A sua mais recente produção é o primeiro longa em HD de Mato Grosso do Sul, “Honra” (2013) um faroeste sul-mato-grossense que conta com a produção de José Reinaldo e onde Alexandre assina direção, câmera, fotografia , edição, sonorização, artes gráficas.
Ele garante que jamais pensou em entrar com projetos ligados as leis de incentivo governamentais e acabou postando toda a sua produção no YouTube no canal CoutoPinturas.
Em sua história Alexandre demonstra que com uma câmera na mão e força de vontade é possível produzir filmes, embora revele ainda que o cinema local é pouco valorizado. Em entrevista ao MS Repórter, ele conta sobre sua história na trajetória cinematográfica de Mato Grosso do Sul e como foi a produção do filme “Honra”, que ganhou ainda espaço para ser exibido em uma rede de cinemas.
MS Repórter - Quando você se interessou por cinema?
Alexandre Couto - Desde pequeno, a primeira vez que vi um filme, não tinha dinheiro e meus pais recém chegados à área urbana, antes morávamos em uma pequena chácara, e com isto ficava impossível ir ao cinema, e nem eu sabia o que era isto, estou falando na época que pra ouvir música em casa era utilizado a antiga “ vitrola “ de corda com aqueles discos de uma única faixa de cada lado, super pesado. Só ao 9 anos passei na frente de um cinema, o Santa Helena, em Três Lagoas e os cartazes me fascinaram e desde então o cinema fez parte de minha vida. Já aos 14 anos ainda no Ginásio, fazia revistas quadrinhos com historietas de faroeste, naquela época já trabalhava em um dos cinema da cidade, daí parti para gravação de áudio como uma novela que era exibida na época nas emissoras de rádio, a antiga radionovela. O elenco com pessoas conhecidas, Valter de Paula residente em Campo Grande e Ésio Vicente de Matos que hoje reside em água Clara, nem sei se eles lembram disso, e outros faziam parte do elenco, pena que não tenho arquivo desta minha experiência. Além do cinema, trabalhava também na emissora Rádio a Voz da Caçula, lá era discotecário e sonoplasta, hoje não sei o nome que se dá, mas a emissora até hoje está bem ativa em Três Lagoas, hoje administrada pelo filho de Romeu de Campos.
MS Repórter - Quais os gastos para se produzir um filme em Campo Grande?
Alexandre Couto - Nunca somei os gastos para se produzir filme, exemplo o Honra, com uma média de 50 horas de captação de imagens. Cada membro da equipe paga seus próprios gastos com locomoção, alimentos e além disto doam o uso de imagem. O roteiro de José Reinaldo, discutimos e obtivemos ajuda de Juareis Chaves e Evandro Walker e Pedro filho que ajudaram no desenvolvimento do enredo do filme, pra quem não sabe que é enredo, é pequenos caminhos alternativos que finda no mesmo ponto do roteiro. A primeira locação foi Fazenda Pontal das águas, única com gastos, apenas de mão de obra, com permuta de gravação de VT’s. O complemento de serviços fiz com muito estudo a arte da cinematografia, diretor de fotografia, contra regra, continuista, iluminação, direção, editar as imagens, efeitos de vídeo e áudio, cada seguimento tem seu preço se fosse pago a terceiros, seria por baixo em média de 100.000,00. Reinaldo Dorval além de roteirista, assistente de direção e ator doou seus serviços. Não se gasta com estes seguimentos de produção e pós produção, com isto o nosso filme fica a baixo custo, aparentemente.
MS Repórter - Você vende os seus vídeos ou divulga na web?
Alexandre Couto - Vendi algumas cópias até para outros estados, os primeiro eram exibidos em colégios e Os covardes devem morrer, foi colocado em algumas locadoras, na década de 90, quando a locadora era novidade, apenas isto, chegou a pirataria e a locadora foi dizimada. A divulgação na web começou a pouco tempo, só o honra tem seu próprio site www.honraofilme.com.
MS Repórter - Você tem apoio para produzir os filmes?
Alexandre Couto - Não, já participamos de alguns projetos culturais governamental, mas seus dirigentes não nos olhou como pessoas que faz cinema, nunca nos retornou dando alguma razão para tal, recebemos apoio só de cidadãos como, Siqueira de Indubrasil nos autorizando filmagens em sua fazenda, Waldir De Ávila também nos doando sua chácara para locação Abboud Lahdo com sua fazenda e muitos outros que acreditaram , sem estes colaboradores o filme Honra não seria possível.
MS Repórter - Por que você acha que o cinema de Mato Grosso do Sul é pouco valorizado?
Alexandre Couto - Aqui é uma capital que as pessoas não tem o hábito de ver produzir cinema. Em uma pesquisa feita por nós, tem uma grande quantidade de pessoas que tem anos que não vão ao cinema, isto é falta de incentivo cultural. Nós não vimos por este lado, foram envolvidos em média 80 pessoas na produção do honra, eu acredito no que faço, se assim não fosse, nem começaria. O cinema do MS é pouco divulgado, pela própria cultura acreditam que só nos grandes centros se faz a sétima arte e o próprio sistema faz com que este hábito não floresça. Somos um dos únicos grupos que persiste na arte da cinematografia a produzir filme longa no estado e frutos do próprio estado.
MS Repórter - Me fala um pouco dos seus trabalhos: Qual assunto você costuma abordar?
Alexandre Couto - Por falta de apoio, fazemos o possível, utilizando a paisagens rural de Campo Grande, a área urbana é muito mais complicada por envolver trânsito. O assunto que retratamos sempre é a falta de justiça e quando aparece sempre é tardia, que na maioria das vezes o mal sempre vence o bem.
MS Repórter - Quando começaram gravações e do que se trata o filme Honra?
Alexandre Couto - A primeira reunião foi na praça do rádio clube sentados no banco do jardim em 2009, por ai você vê, um filme independente não é uma mega produção, mas não deixa de ser um filme com história de começo meio e fim. A primeira gravação foi 24 junho de 2010, e daí para frente foi uma sucessiva de gravações em várias outras datas até completar toda a coletânea de imagem de se compor o Honra. O filme retrata a vida como ela é, de casamento mal sucedido, vivido por Márcia Padilha e Rubens Ramos e quando uma vida a dois se acaba que não se deve acreditar em tudo que um novo parceiro relata, (Chaves vivido por João Rodrigues), como diz um antigo proverbio “coração é terra que ninguém vai” e com isto sobra pra João Cigano, interpretado por Reinaldo Dorval.
MS Repórter - Como foi para você conseguir o espaço em um cinema para exibir?
Alexandre Couto - Uma pessoa influente ligada a rede Cinépolis de Campo grande acreditou no nosso trabalho e através do mesmo se iniciou o caminho para se conseguir este espaço, diga-se de passagem, vai ser bom para os três lados, porque Campo grande que vai ver um filme Campograndense. O setor de programação já confirmou a exibição, ainda sem data para exibição.
MS Repórter - Você tem planos de produzir outros vídeos?
Alexandre Couto - Planos é o que não falta quanto a espera da exibição do Honra, estamos trabalhando para a divulgação, vamos conscientizar que Campo Grande também se produz filme. O primeiro filme longa em HD do MS, não vai depender de mim porque minha parte já fiz, só Campo Grande querer e o Honra vai ser visto pelos sul-mato-grossenses.
Por Ana Paula Duarte